"O vento vai dizer lento o que virá..." - Rodrigo Amarante
Sinta o sossego,
pós sussurro e pré silêncio,
um sopro e nada mais
[...]
Ouço o murmúrio do vento
E a este cício constante
Prendo-me, então, atento
Meu maior vício, pulsante
É essa paz em movimento
Nem que por tanto tente
Ao tocar do leve sopro
Evito o evento, acidente
De esboçar alegria breve
No ensaio de um sorriso
E saio, lanço-me ao vento
Levado pelo acaso corrente
Mesmo que num vagar lento
O espírito flui ascendente
Na paz do manso momento
[...]
E a voz do alento denso
Cala o caos do pensamento,
Cerra os olhos em sossego
E, em puro silêncio, penso:
Ar! o mais nobre elemento...
Ar que me lança como um lenço
E me põe a planar sem rumo
Norteado pela rosa sem pétalas
Dispersas em desaprumo
Ah! deixo-me subir, cair, voar,
Vagar no espaço dos instantes,
Da ventura em cada vento
Na candura desse canto
Que é pleno, puro
Descompassa e passa...
[E me pego em paz planando sem qualquer plano de vôo]