"Será o Homem um erro de Deus,
ou Deus um erro dos Homens?"
Nietzsche
(I)
Incerto sobre estar rezando ao contrário
Dada a ausência de toda graça ou de bênção
Corro a mão sobre cada conta de um rosário
Sem dar voz à prece, a minha vã devoção
A dúvida persiste e profana meu santuário,
Creio na santidade do espírito ou na razão?
O malogro divino cai sobre o homem solitário
Exausto de orar e clamar por proteção!
Essa foi a dádiva dada, presente de nascença
Única, posto que no resto reina a indiferença
Que resulta na verdadeira verborragia herética!
Certamente, o inferno é irrefutável sentença
Peço perdão, portanto, por tamanha ofensa...
Mas, Senhor, cogitar é minha crença antitética!
Mas, Senhor, cogitar é minha crença antitética!
(II)
Frente à misericórdia, discurso temerário
Exclamei: livrai-me de toda a maldição!
Como em um ato desesperado e arbitrário
Faço dessa, enfim, minha última oração!
Já foi crível que o desgosto fosse temporário
E, da esperança, houve absoluta veneração
Que morreu ao bater dos sinos do campanário
Juntamente com a minha vida de precação!
Não culpo a dúvida causada pela dor imensa...
Nem o abandono, quiçá fruto d'uma desavença
Que ergueu como altar a minha fé hipotética
E suplico do alto da minha sé de descrença:
Perdoai a quem te ofende de forma intensa
Se o tenho ofendido com minha fala cética!