Então, galera, deparei-me, por acaso, com esse texto que escrevi não sei quando sobre o filme "O show de Truman" e resolvi postar - mudando um pouco o rumo do blog. Provavelmente deve ter sido algum exercício de redação da minha passada
Muitas são as artes – filmes, livros,
músicas – com as quais, no correr dos anos, entramos em contato e
que, de certa forma, inevitavelmente, exercem influência sobre
nossos gostos, valores e juízos. Caso fosse necessário mencionar
aqui todos os sons, imagens, enredos e tramas que me prenderam a
atenção e despertaram-me fascínio, iria fazê-lo com muito prazer,
mesmo tendo que escrever numerosas páginas densas, encharcadas de
fábulas, heróis românticos, tintas a óleo e claves de sol. No
entanto, existem certas obras de arte que, por algum motivo, ao nosso
olhar, destacam-se das demais e acabam por exercer impacto sobre quem
somos.
Um dos filmes por que muito me interessei foi
“O Show de Truman: O Show da Vida”. Resumidamente, esse filme
trata da vida de um rapaz – Truman – o qual, sem saber, é
protagonista, desde o nascimento, em um “reality show” com uma
estrutura gigantesca, pode ser vista do espaço, e assistido por
milhares de pessoas. Sem estar ciente de toda a farsa, Truman pensa
levar uma vida 'normal': com emprego, mulher e amigos. Todavia, a
partir de acontecimentos estranhos, tal como quando está dirigindo e
o rádio do carro sintoniza uma
freqüência que narra exatamente o que ele faz no momento; ou quando
vai entrar no elevador, mas observa um fundo de cenário com pessoas
no lugar do elevador que deveria estar lá, ele começa a desconfiar
de que algo pode estar errado. A partir de então, o rapaz nota que
muitas das atitudes das pessoas são “suspeitas”, tudo parece ser
ensaiado e eis que, então, surge uma moça pela qual Truman se
apaixonara no início da adolescência e que conta toda a verdade a
ele, mas que logo é retirada e acusada de ser louca. Ao descobrir
a verdade e perceber que está aprisionado, ele decide que seu único
objetivo é escapar da cidade e o consegue.
Os filmes e livros, quando bem interpretados, nos levantam inúmeras
interrogações. Em
“O Discurso do Método”, Descartes diz que “ a leitura de todos
os bons livros é igual a uma conversação com as pessoas mais
qualificadas dos séculos passados, que foram seus autores, e até
uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam tão-somente
os melhores de seus pensamentos”. E isso pode se aplicar às
diversas artes, nas quais são expostos o melhor de cada autor, seja
de um poema ou de uma canção, para que isso toque, de alguma forma
o outro e este, por sua vez, absorva e regurgite uma
ideia nova, com base no já-conhecido, como já propunha o manifesto
antropofágico dos modernistas brasileiros. Esse filme, em especial,
me fez pensar em questões tais como: até que ponto o homem pode
chegar, tendo como referência o dinheiro, o lucro; a invasão de
privacidade pela tecnologia; a força da confiança na palavra de
quem quer o nosso bem e o poder da curiosidade e do conhecimento.
Com o desenvolvimento do capitalismo, o homem ocidental tornou-se
deveras individualista, fazendo do dinheiro seu aliado exclusivo. Às
vezes, penso não serem críveis os caminhos para os quais os homens
tomam rumo objetivando o dinheiro e repudio toda conseqüência
extrapolada originada por ele. Como mostra o filme, uma empresa ter
domínio ou quase posse da vida de uma pessoa é uma completa falta
de ética, porém isso, a meu ver, não passa de uma alegoria para os
tempos modernos nos quais as grandes empresas/indústrias controlam
tanto direta quanto indiretamente nosso comportamento e nossas vidas.
Como exemplo, tomo a indústria da moda e, principalmente, a
televisiva, as quais ditam estereótipos de beleza a todo instante.
Confesso que não sei em quais circunstâncias o homem pode passar
por cima de seus semelhantes e ignorar o sentimento alheio tendo como
fim o dinheiro, mas sei que muitas vezes, infelizmente, assim o
fazem. É interessante também notar que os nomes dos personagens
auxiliam na alegoria: Christof,
o 'dono'/diretor do programa, é quem controla a vida de Truman e de
todos os atores e figurantes, ou seja, possui o poder da humanidade
daquele contexto em suas mãos. Seria uma alusão a Christ?–
pergunta retórica. E Truman, portanto, seria o homem verdadeiro,
sujeito a todas as variáveis dos acasos da vida.
Outro ponto que me fixou muito ao filme foi o que diz respeito à
força da confiança nas pessoas que querem o nosso bem. Na parte em
que Truman se vê frente à dúvida entre a verdade, contada pela
moça que o realmente amava e não agüentava mais vê-lo dentro de
toda aquela farsa para gerar lucro à empresa que transmitia o
programa, e a mentira, contada por aqueles que só diziam que a moça
era insana para mascarar a verdade e continuar o “grande show”,
ele pesa mais para as palavras da moça. Desde cedo, aprendi o quão
importante é o sentimento bom e espontâneo e deixo ser guiado,
muitas vezes, pela confiança nele. Numa sociedade na qual as
relações estão cada vez mais mecanizadas e os diálogos parecem
todos já ensaiados, devemos ouvir as palavras daqueles a que nos têm
bons sentimentos, pois são esses o quais nos querem protegidos, em
segurança, enfim, em bons caminhos.
Assim, além deste, muitos outros filmes, livros e músicas ajudaram
a encaminhar-me para quem hoje sou. Penso ainda não ter
concluído meu processo de formação de idéias e que alguns valores
ainda hão de ser adquiridos, por isso, espero a influência dos
versos e dos sons sobre o meu andar daqui pra frente...