O show de Truman: O show da vida!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Então, galera, deparei-me, por acaso, com esse texto que escrevi não sei quando sobre o filme "O show de Truman" e resolvi postar - mudando um pouco o rumo do blog. Provavelmente deve ter sido algum exercício de redação da minha passada semivida de pré-vestibulando. Há algo também, como de costume, de auto-avaliação de como as nossas experiências com livros e filmes acabam por moldar o nosso pensamento. Segue o texto e proponho que, nos comentários, sejam citados filmes, livros e/ou músicas que tenham, de alguma forma, marcado o senso crítico de vocês ou que tenha despertado alguma ideia ou reflexão! Abraço!


Muitas são as artes – filmes, livros, músicas – com as quais, no correr dos anos, entramos em contato e que, de certa forma, inevitavelmente, exercem influência sobre nossos gostos, valores e juízos. Caso fosse necessário mencionar aqui todos os sons, imagens, enredos e tramas que me prenderam a atenção e despertaram-me fascínio, iria fazê-lo com muito prazer, mesmo tendo que escrever numerosas páginas densas, encharcadas de fábulas, heróis românticos, tintas a óleo e claves de sol. No entanto, existem certas obras de arte que, por algum motivo, ao nosso olhar, destacam-se das demais e acabam por exercer impacto sobre quem somos.
Um dos filmes por que muito me interessei foi “O Show de Truman: O Show da Vida”. Resumidamente, esse filme trata da vida de um rapaz – Truman – o qual, sem saber, é protagonista, desde o nascimento, em um “reality show” com uma estrutura gigantesca, pode ser vista do espaço, e assistido por milhares de pessoas. Sem estar ciente de toda a farsa, Truman pensa levar uma vida 'normal': com emprego, mulher e amigos. Todavia, a partir de acontecimentos estranhos, tal como quando está dirigindo e o rádio do carro sintoniza uma freqüência que narra exatamente o que ele faz no momento; ou quando vai entrar no elevador, mas observa um fundo de cenário com pessoas no lugar do elevador que deveria estar lá, ele começa a desconfiar de que algo pode estar errado. A partir de então, o rapaz nota que muitas das atitudes das pessoas são “suspeitas”, tudo parece ser ensaiado e eis que, então, surge uma moça pela qual Truman se apaixonara no início da adolescência e que conta toda a verdade a ele, mas que logo é retirada e acusada de ser louca. Ao descobrir a verdade e perceber que está aprisionado, ele decide que seu único objetivo é escapar da cidade e o consegue.
Os filmes e livros, quando bem interpretados, nos levantam inúmeras interrogações. Em “O Discurso do Método”, Descartes diz que “ a leitura de todos os bons livros é igual a uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram seus autores, e até uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam tão-somente os melhores de seus pensamentos”. E isso pode se aplicar às diversas artes, nas quais são expostos o melhor de cada autor, seja de um poema ou de uma canção, para que isso toque, de alguma forma o outro e este, por sua vez, absorva e regurgite uma ideia nova, com base no já-conhecido, como já propunha o manifesto antropofágico dos modernistas brasileiros. Esse filme, em especial, me fez pensar em questões tais como: até que ponto o homem pode chegar, tendo como referência o dinheiro, o lucro; a invasão de privacidade pela tecnologia; a força da confiança na palavra de quem quer o nosso bem e o poder da curiosidade e do conhecimento.
Com o desenvolvimento do capitalismo, o homem ocidental tornou-se deveras individualista, fazendo do dinheiro seu aliado exclusivo. Às vezes, penso não serem críveis os caminhos para os quais os homens tomam rumo objetivando o dinheiro e repudio toda conseqüência extrapolada originada por ele. Como mostra o filme, uma empresa ter domínio ou quase posse da vida de uma pessoa é uma completa falta de ética, porém isso, a meu ver, não passa de uma alegoria para os tempos modernos nos quais as grandes empresas/indústrias controlam tanto direta quanto indiretamente nosso comportamento e nossas vidas. Como exemplo, tomo a indústria da moda e, principalmente, a televisiva, as quais ditam estereótipos de beleza a todo instante. Confesso que não sei em quais circunstâncias o homem pode passar por cima de seus semelhantes e ignorar o sentimento alheio tendo como fim o dinheiro, mas sei que muitas vezes, infelizmente, assim o fazem. É interessante também notar que os nomes dos personagens auxiliam na alegoria: Christof, o 'dono'/diretor do programa, é quem controla a vida de Truman e de todos os atores e figurantes, ou seja, possui o poder da humanidade daquele contexto em suas mãos. Seria uma alusão a Christ?– pergunta retórica. E Truman, portanto, seria o homem verdadeiro, sujeito a todas as variáveis dos acasos da vida.
Outro ponto que me fixou muito ao filme foi o que diz respeito à força da confiança nas pessoas que querem o nosso bem. Na parte em que Truman se vê frente à dúvida entre a verdade, contada pela moça que o realmente amava e não agüentava mais vê-lo dentro de toda aquela farsa para gerar lucro à empresa que transmitia o programa, e a mentira, contada por aqueles que só diziam que a moça era insana para mascarar a verdade e continuar o “grande show”, ele pesa mais para as palavras da moça. Desde cedo, aprendi o quão importante é o sentimento bom e espontâneo e deixo ser guiado, muitas vezes, pela confiança nele. Numa sociedade na qual as relações estão cada vez mais mecanizadas e os diálogos parecem todos já ensaiados, devemos ouvir as palavras daqueles a que nos têm bons sentimentos, pois são esses o quais nos querem protegidos, em segurança, enfim, em bons caminhos.
Assim, além deste, muitos outros filmes, livros e músicas ajudaram a encaminhar-me para quem hoje sou. Penso ainda não ter concluído meu processo de formação de idéias e que alguns valores ainda hão de ser adquiridos, por isso, espero a influência dos versos e dos sons sobre o meu andar daqui pra frente...

0 surtos poéticos/patéticos: