Deuses e formigas.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

"Deus é uma criança com uma fazenda de formigas." - Constantine 
 
Hoje eu vi formigas. Não foram as primeiras, mas as mais importantes. Eram daquelas bem pequenininhas que dão no açucar, mas não tinha açucar. Observei-as andando em uma trilha invisível na parede, perto do chão, no meu quarto. Pareciam ter um único objetivo: seguir o caminho. Apenas. A presença de um ser que poderia decidir o destino de suas vidas e esmagá-las usando só as pontas dos dedos era, aparentemente, ignorada. Elas seguiam seus caminhos, o qual o fim eu desconhecia totalmente. Só isso. Alienadas: foi o meu primeiro pensamento. Pequenas formigas, fazendo suas pequenas tarefas em suas pequenas realidades. Sabem que realidade é o meu quarto, talvez minha casa ou meu terreno. Sendo muito otimista, sabem, também, da existência do meu condomínio. No entanto, desconhecem a cidade onde está meu condomínio ou o país onde está essa minha cidade. Como um deus pretensioso subjulgando as pequenas formigas, então, resolvi mudar o destino daquelas com a ponta dos meus dedos! Não, não as esmaguei. Certa vez, ouvi que a orientação pela trilha para um objetivo qualquer era baseada no céu, como os antigos navegadores. Mas era de noite e estavam no meu quarto sem ter contato direto com o céu. Acho que não era verdade. Lembrei, então, de outra vez que me foi dito que as formigas se orientavam por meio da detecção de ferormônios depositados na trilha. Tive a ideia, então, de meter meu dedo ali, no intervalo entre duas formigas, e esfregar a trilha, para retirar os ferormônios. Assim o fiz. Depois disso, a formiga que vinha atrás ficou desorientada. Parou. Tentou ir pra frente, mas parou novamente. Andou para os lados e, no fim das contas, foi parar totalmente fora do caminho e, de maneira alguma, conseguia reencontrá-lo. Desnorteada frente ao ainda-não-conhecido. Foi aí que uma outra formiga foi até ela e a levou de volta de onde não deveria ter saído, da tarefa a qual fora designada. Mesmo havendo o contato com o novo, a formiga preferiu voltar ao caminho pré-desenhado, ao plano a ser seguido. Mas será que ela queria conhecer de fato a verdade? Melhor é ser conscientemente alienado a ser alienado por definição? Às vezes não queremos que coloquem o dedo em nossas vidas, ou que o dedo aponte o caminho a ser seguido. Deus deve ter um plano. O acaso deve ter um fim. Um dia, certamente, também serei vítima de algum acaso desinteressado maior que eu, uma mera vendeta direcionada a um sujeito sem culpa que só estava passando por ali. Após esse momento, levantei e fui lá fora olhar o céu estrelado. Passei um tempo curto e voltei, deitei no sofá e liguei a TV.

Se gostou, comenta e leia também Deuses e escorpiões de Christian Georgii. 

Hermético.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

[I.Trustless toughts]

À falência, descrente
Assisto, da última clemência,
Derradeira súplica d'um sentimento
Débil produto popular!

Virastes então produto?
Denúncia! Da demência humana
Ergue o amor de superfície
Embasado na hipocrisia que emana
Em falácias de toda imundície
A este produto, apenas o meu luto...

Da falácia vem a falência
Da lisura, então, a cura
Mas só se sustenta aparência
Finda, assim, a aura mais pura!

[II.Nothing but a memory]

Houve um tempo, pois
Em que o mais formoso tema
A ser declamado no poema
Era o sentimento singelo
Era o elo entre ‘nós dois’

E o amor teve a infância
Em dias mais transparentes
Como nos olhos inocentes
Da criança que chora
Pela mãe que demora...

E o pranto cessa
Nas frases doces do Profeta
Ou começa nas dores d'um poeta
Porém, sempre amor...

[III.Hope helping]

D'onde então o afeto pulsa
Se peitos poetas são antes humanos?
O verso que engana os sentidos
Impuros, imundos, mundanos
É a poesia que corre doce nos ouvidos
E expulsa de mim essas repulsas!

A voz do verso torna-se audível e
Desprende o azedume encarcerado,
Encardido; o pretume encravado
No peito clemente faz-se luz
Em chamas no âmago sensível
Acende a palavra límpida e inocente
Que flui e transcende no espírito...

...Vem a sensação antes esquecida,
A candura que acalma o coração
A alma, agora mais pura, então
Capaz de amansar a inquietude
Na estruturação dos símbolos,
A magnitude dos sentimentos
Que são silabicamente organizados
Unindo o que o peito sente
Ao que a mente vê na poesia...

[IV.Worth it]

E discreto, o verso sentido é fagulha,
Que acende e borbulha o sangue poético,
Pois são corações que facilmente inflamam
Patéticos por amarem mais que os outros amam!

Peito poeta, inocente a palpitar...
Portanto, reconheço a condição
Daquele qu'inda não sabe amar
Mas que ama como única opção! 

“Eu sou poeta e não aprendi a amar” - Cássia Eller

‘Poético, patético, hermético.Do amor fez-se a poesia ou vice-versa? São tantas questões acerca que me falta o ar...’