Fogo-fátuo.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013




Minha alma - a madita sob a cruz
Segue o rumo da peste e da agonia
E se cobre de dor, desgraça, e pus.
A maldita da noite, abolida do dia!

Errante por entre as velhas sepulturas
Segue a sombra entoando, em noite fria 
O canto dolente das próprias desventuras
Enquando acende o fogo da candearia:

Descansa, oh, minha dor!
E busca na noite mais escura
Refúgio para tanta amargura,
O silêncio acolhedor...

Se amansa, oh, meu sofrer!
Posto que minha voz é lamento
E ressoante, faz-se  o acalento
Pra minha dor adormecer.

Perdão, perdão aos quatro ventos
Pois sou filho do vinho, profano
E não nego os meus pecados
De um reles ser humano...

Súbita como surgiu, a sombra desvanece
Tal qual fogo-fátuo, assombro dos tolos
E leva consigo os infindos desconsolos
Entoados, ainda, na repetida antiga prece!

E some a sombra por entre o campo morto
O pendor, a treva e o mal são passageiros
Não se iluda, também o gozo e o conforto
Se apagam como o fogo daqueles candeeiros...

Condicional.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

"Uma vida é pouco para tanto"
Lenine.

E, mais uma vez, encontro-me preso em meu quarto escuro, entre sentenças abstratas que vagueiam no espaço das quatro paredes que me guardam, tais como as quatro esquinas que limitam a liberdade das palavras ao verso escrito e não ao vento cantado. Encontro-me preso nesse porão escuro - sem direito a condicional - entre as linhas sem sentido aparente, entre as linhas não escritas da minha própria história. Nos espaços paralelos entre as retas que formam cada linha, entrelinhas, universos alternativos, acasos possíveis. Fui sentenciado, portanto, à condição daquele que vive inúmeros personagens nas várias vidas presentes em cada potencialidade de cada momento  - e quantos momentos. E se, no meu quarto escuro, eu apenas adormecesse em meio ao caos de pensamentos que me invadem agora? Essas palavras jamais existiriam. Encarcerado no meu próprio labirinto, vou achando os caminhos - pura ilusão. Se isso, então aquilo. Se, e somente se, eu fosse menos lógico! Como eu gostaria, para que pudesse, em vãos momentos, eu cantar ao negro céu, entristecido, o que era pra ter sido e não aconteceu. Simplesmente. No entanto, eu não fiz essa escolha e isso me dá outra consequência, outro caminho a ser seguido, outra vida que nunca esperei - e morrem tantas outras vidas que jamais saberei. Se eu fosse o primeiro a saber o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz, quem, então, agora eu seria? E se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado? O que não foi não é, mas...e se eu fosse menos lógico. Meu fim está, portanto, no tear de uma rede de probabilidades e condições ao qual me aprisiono. E, como um inseto capturado, quanto mais me debato, mais fico preso na teia. É sim uma armadilha. De mim para mim. E, por fim, entre tantas condições, o que permanece incondicional é minha vontade de ter certeza daquilo que seria... Oh, you think darkness is your ally, but you merely adopted the dark. I was born in it, molded by it. I didn’t see the light until I was already a man. By then, it was nothing to me but blinding! The shadows betray you, because they belong to me!
Paradoxos .