Quarta-feira em um pub desses meio pop-alternativo-underground e não sei como se iniciou esse pensamento. Estava eu, no meio de uma multidão, já entorpecidamente confortável pelo solo da música que antecedeu a que tocava no momento desse lampejo. Olhos fechados e, ainda assim, podia acompanhar o movimento das luzes vermelhas e azuis tridimensionais que atravessavam minhas pálpebras cerradas; a música que passeava no local e as vozes uníssonas a entoar um mantra hipnótico sobre a ausência que atravessavam meus ouvidos; e esses tais pensamentos que insistiam em atravessar minha consciência naquele momento. Como se fazia irônico o fato de uma música que fala de uma ausência - que também dava nome a um álbum inteiro sobre o mesmo assunto- ser cantada por todos ali presentes. Ao perceber isso, de olhos fechados, deixei que meus lábios se sincronizassem com as palavras da música, mas sem entoá-las, afinal, deixei que as não-palavras que saíssem da minha boca fossem as palavras de ausência da tal música que estava tocando. Estava eu, ali, sozinho como no meu quarto escuro, só que rodeado de solidões, no meio de uma multidão que cantava a perda. Deixei-me, então, lembrar de todos que já passaram e despedi-me, ou quis encontrar de novo, não nego. Além disso, se tratava de uma balada, uma música para ser cantada por todos, como em rodinhas de violão, talvez por se tratar de algo comum àqueles ali: algo faltante, que não comparece, como as palavras no meu canto silencioso, um ode à ausência, à saudade, à espera do reencontro. E corremos de braços abertos e olhos fechados para esse reencontro. Correndo sobre o mesmo velho chão o que nós achamos? Os mesmos velhos medos. Queria que você estivesse aqui.
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