"Hello darkness, my old friend
I've come to talk with you again
...Within the sound of silence"
Simon e Garfunkel
I've come to talk with you again
...Within the sound of silence"
Simon e Garfunkel
De novo, encontro-me aqui. Não, eu não disse que estou simplesmente aqui; disse que encontro-me aqui, posto no lugar único onde posso realmente estar e me achar. Sento-me à mesa, onde está servido café para um, bem forte, bem preto, feito quem me acompanha: Srª Escuridão. Não, aqui não se parece com um bosque e nem é morada dos anjos, como na cantiga de roda; mas aqui se chama Solidão. Um lugar - não um estado psico-ilógico que dizem ser de vazio existencial, sentimento de desesperança e abandono. Muito pelo contrário, é um lugar que gosto de visitar de vez em quando, confesso e friso, de vez em quando. Recanto ao qual volto minha atenção, meu templo fictício, pois não existe além do meu próprio eu - sem esquecer da Srª Escuridão e o Sr. Silêncio que normalmente a acompanha por aí. Como dizia...sentado, à meia-luz, com um deles em cada lado na mesa, busco aqui a chave pro sentido do mundo lá fora, jogo, como quem lança a sorte nos dados, um punhado de perguntas de porquês na mesa....
A Escuridão insiste em não revelar nada e o Silêncio, companheiro fiel, mantém o voto e permaneço sem respostas. Mas não tem problema, sempre valorizei mais as perguntas que as respostas, pois não existem respostas erradas, mas perguntas erradas...
Como disse, encontro-me aqui, pois só aqui emudeço, elucido, (re)conheço-me. Aqui se chama Solidão, mas em que outro lugar poderia encontrar melhor companhia que a minha própria? Di, tri, heptalogar ou, simplesmente, monologar ou, às vezes, calar - talvez o Silêncio esteja aqui pra me ensinar isso. Há poucos instantes estava sozinho, agora posso ser 7 ou mais. É aqui que vejo as misérias do mundo - externo e interno. Estar só é estar no íntimo do mundo. É aqui que enfrento meus leões, mesmo nunca havendo medo deles. Pesadelos - quem melhor do que eu para decifrá-los, posto que fui eu mesmo quem os escrevi em forma de roteiros, filmei e dirigi, ali, sentado da minha cadeira de cineasta? Como disse, ainda que não haja luz, há lucidez, encontro-me aqui.
Constituíntimo. Palacete onde não existe o Tempo, templo sagrado dos homens. Aqui ele não permanece, perece, pois aqui só a solidão é infinita. Não há para onde correr, porém, tantos conseguem vencê-la. Não acho que isso seja lá uma vitória, fugir deste lugar, eu digo. Fugir daqui é como rejeitar as próprias mazelas, é estar aquém de quem se é realmente. Estar aqui é enxergar, ainda que haja Escuridão. Enxergar a monstruosidade que não cabe apenas ao outro. Permanecer aqui por escolha é para poucos. Ninguém disse que seria fácil, isso ninguém disse. E, mesmo assim, insistem em fugir, evitando contato com a própria realidade. Os escapistas de si mesmos. Medo de que os rostos refletidos no espelho não correspondam àquele idealizado - pois provavelmente é o que acontecerá. Quanto mais frequentamos esse lugar, mais o rosto se adéqua ao espelho e nos reconhecemos. E, então, fico e desmistifico.
Um lugar que pode estar em tantos (todos) outros, e aqui estarei, independentemente da situação. E não é um lugar só meu, está aberto a visitação de todos. Quem conhece mais esse lugar do que eu? Acostumei a frequentá-lo sempre que quis e também quando não quis. Indico, mas só quando eu não estiver aqui, pois aqui só tem café para um. Sejam bem-vindos à Solidão.
"Em um mundo de pessoas rasas, mergulhar de cabeça pode ser perigoso."
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