Ato único:
Cena acontece no sinal fechado.
(Entra menino sujo, com os pés no chão
Incessantemente fica estendida a mão):
- Ei, moço! Me dá um trocado?
“Que país é esse?
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior”
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior”
“E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
de fome um pouco por dia”
- João Cabral de Melo Neto
Ao olhar lá pra fora da janela
Me diga o que vês de verdade...
Porquanto vejo tanta desigualdade!
Vejo a favela e a mazela social
Na qual vive esse nosso povo.
E isso aí não é problema novo,
Mas só o que não consigo ver
É quem queira mudar isso tudo.
Mesmo frente a tanto absurdo,
Fica-se cego, surdo e mudo!
Ao olhar nos olhos da criança
Desnutrida de sonhos e esperança
Diga-me o que vês de verdade...
Porquanto vejo a pior realidade
Espelhada numa lágrima densa
Escorrida com a lástima imensa
De quem sobrevive (não vive)
Atirado ao acaso e ao descaso,
Intocável e invisível à sociedade
Provando o ocaso da Humanidade!
E os Severinos querem a chance
De partir pra cidade grande
‘Pros menino virar Doutor!’
Sem saber que quem os espera
É a desilusão dessa quimera
O sonho que se faz traidor...
Pense que aquele retirante com fome
Que só queria ser sujeito normal
Com um emprego padrão
Pode ser o mesmo indigente sem nome
Alvo do sensacionalismo do jornal
Que passa na televisão:
Não morreu faminto nem doente
O pedinte de sinal, indigente
Morreu espancado por policial
Mais um ladrão de pão!
"Pense, pense, pense
E faça alguma coisa"
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