Sob a chuva, mas sem sentir as gotas na pele, sentia apenas a água
turva entrar no all-star ao pisar numa poça imunda na beira do meio fio.
Naquele momento, o pensamento caótico se confundia com o barulho dos carros
anômicos e os faróis refletidos no chão molhado causam um estranho incômodo
fotofóbico, evitado com um simples olhar para baixo...
E ver um cigarro encharcado e puído sob os pés, sob a chuva, sob o
céu. O escarro é inevitável e o disparo se faz certeiro ao lado dos restos de
fumo – denso e preto, tardiamente à tosse seca. O ar carregado de fuligem em
suspensão do ônibus que parte é tão preto quanto o cuspe que carrega mais
substâncias diferentes que um maço de cigarros se atreveria.
São as chagas asfixiadas que saem em amálgama com o pretume e,
lentamente, se misturam no chão com o chorume que escorre de uma lixeira velha
e enferrujada. Cada elemento combinado como deveria. Isso até que os pés
descalços e rachados de um mendigo pisam na alquimia pútrida e a espalha entre os
passos, misturando-a a uma nova sujeira híbrida.
Um breve pigarro e a saliva é engolida devagar na tentativa de
aliviar a sequidão da garganta. Entre o escarro e a tosse; o vômito e a
lágrima; a fumaça e a solidão; a arte sobrevive compartilhada na idiossincrasia
do toque úmido de um aperto de mãos amigas. O sinal abre e o passo já pode se
apressar para atravessar em segurança e ir para casa.
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