Mera quimera.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ato único:
Cena acontece no sinal fechado.
(Entra menino sujo, com os pés no chão
Incessantemente fica estendida a mão):
- Ei, moço! Me dá um trocado?
Que país é esse?
Terceiro mundo, se for
Piada no exterior”

- Legião Urbana

 
E se somos Severinos   
iguais em tudo na vida,   
morremos de morte igual,   
mesma morte severina:
de fome um pouco por dia” 
 - João Cabral de Melo Neto


Ao olhar lá pra fora da janela
Me diga o que vês de verdade...
Porquanto vejo tanta desigualdade!
Vejo a favela e a mazela social
Na qual vive esse nosso povo.
E isso aí não é problema novo,
Mas só o que não consigo ver
É quem queira mudar isso tudo.
Mesmo frente a tanto absurdo,
Fica-se cego, surdo e mudo!

Ao olhar nos olhos da criança
Desnutrida de sonhos e esperança
Diga-me o que vês de verdade...
Porquanto vejo a pior realidade
Espelhada numa lágrima densa
Escorrida com a lástima imensa
De quem sobrevive (não vive)
Atirado ao acaso e ao descaso,
Intocável e invisível à sociedade
Provando o ocaso da Humanidade!

E os Severinos querem a chance
De partir pra cidade grande
‘Pros menino virar Doutor!’
Sem saber que quem os espera
É a desilusão dessa quimera
O sonho que se faz traidor...

Pense que aquele retirante com fome
Que só queria ser sujeito normal
Com um emprego padrão
Pode ser o mesmo indigente sem nome
Alvo do sensacionalismo do jornal
Que passa na televisão:

Não morreu faminto nem doente
O pedinte de sinal, indigente
Morreu espancado por policial
Mais um ladrão de pão!

"Pense, pense, pense
E faça alguma coisa"

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