quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também"
- Renato Russo


...E as águas-de-março findavam o verão no céu e nos olhos dela. Dali em diante seria inverno, inferno talvez. Então, com os olhos marejados, ela se virou e ameaçou andar, mas não o fez. Deu uns três passos e parou. Ele, por sua vez, achou que ela não queria partir e até esboçou um sorriso no canto esquerdo da boca. Enganou-se talvez. Ela abaixou e amarrou com força os cadarços do seu all star azul, pois, já que iria andar, não queria tropeçar na estrada que seguiria dali em diante. Levantou-se e seguiu em frente. Ele, por sua vez, era daqueles largados demais que tocavam bossa-nova e rock n roll nas rodinhas de violão. Usava um all star preto de cano-meio-alto surrado. Não se importou, virou-se e tornou a caminhar também. Mas o nó estava frouxo e a cada passo se tornava ainda mais até que, depois de alguns passos, desamarrou. Ele era mesmo daqueles largados meio bêbado, meio equilibrista e não se importou, pois achou que não tropeçaria em momento algum. Enganou-se. Tropeçou, cambaleou e caiu. Ah, e se achas que ele levantou, enganou-se!

terça-feira, 30 de outubro de 2012
Já que aqui virou um caixão de palavras, continuarei o desperdício do verbo reproduzindo, nas palavras dos outros, as minhas. Assim dói menos.

"...e quando eu vou voltar, quem vai saber
se alguém numa curva me convidar
eu vou lá
que andar é reconhecer
olhar
eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou
Eu escrevo e te conto o que eu vi
e me mostro de lá pra você
guarde um sonho bom pra mim
eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou..." -
Rodrigo Amarante, Primeiro Andar.
sábado, 27 de outubro de 2012

"Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"

Engraçado como essa ainda é minha passagem preferida. Obrigado, Augusto.

domingo, 14 de outubro de 2012


Quem vive de passado sofre de depressão. Quem vive de futuro, ansiedade. E de presente, felicidade. Mas o homem é uma totalidade dos tempos ao mesmo tempo ''sentir saudade'' já é pleonasmo em mim.

''E tudo que eu falei dormindo eu sempre quis dizer de dia. 

Invento artifícios pra nunca te perder. 
Eu não vou te perder...''

Fa(r)do.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Fado cantado sobre a falta
Sobra a falta, hiato, nó atado
No peito apertado

Fato é que sobra tanta falta
e deixa diminuto,
assim bem miúdo
o meu peito
apertado

Fardo que é feito de ausência
quase inteiro em lacunas
até que o fado te unas
ao meu peito
abraçado

Fato é que a saudade desatina
e faz-se hiato, fardo algoz
essa distância entre nós,
a discrepância
do destino.





fado é um estilo musical português. Geralmente é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa. A palavra fado vem do latim fatum, ou seja, "destino” e a música traz, em sua temática principal, a dolência e a melancolia, na qual o fadista canta o sofrimento, a saudade de tempos passados, a saudade de um amor perdido, a tragédia, a desgraça, a sina e o destino, a dor, amor e ciúme, a noite, as sombras, os amores, a cidade, as misérias da vida e críticas à sociedade.


Madredeus - Ao Longe o Mar

"Sim, eu canto a vontade
Canto o teu despertar

E abraçando a saudade

Canto o tempo a passar"


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

E findou o terrível setembro. Me lembro, me lembro daqueles dias de setembro...Antes - e quem dera - fosse sim coração partido, mas a dúvida é o inimigo maior. E a incerteza tem nos matado silenciosamente. Então, ouvi que querias, desesperada, arrancar-me de ti como quem retira o cancro parasita do corpo (e mente), o peso da pedra amarrado em teu pé que te afunda, impiedoso. Se assim o fez, talvez se sinta melhor. Se não o fez, tente. Arranque, amasse - mas não rasgue, e jogue fora. 

E se um dia quiser novos versos, abra o papel e desamasse que ainda cabem algumas palavras confortantes. Hoje não escrevo mais, não canto mais. Hoje não colho mais as flores-de-maio ou de setembro,  nem sou mais veloz como os heróis. Talvez um dia eu seja como um sapato velho ou um papel de pão, mas ainda servirei, se você quiser, basta você me calçar ou desamassar que eu aqueço o frio dos seus pés ou do seu peito...

...ou não

E tu me dizes: