Epitáfio.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

"Foi poetasonhou – e amou na vida "
Álvares de Azevedo.

Deixa a brisa me levar, serena
Pra voar mais leve e mais livre
Que, agora, o meu coração
Pesa menos que uma pena.

E quando o meu nome for dito
Que não haja sombra alguma:
Qualquer traço de tristeza,
Ou de exaltação - não admito.

Que seja como era.

Deixa-me saber que, ao partir,
Vai ficar ainda o que foi bom
Sorria, então, de tudo aquilo
Que costumava nos fazer sorrir.

E quando, finalmente, eu me for:
Permaneça minha voz e meu canto;
Se esqueça da mágoa e do pranto; 
E somente se guarde o bom do amor.

Que seja como (s)era.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Pelos tantos colos, carinhos e mimos
E o sopro da tua respiração quente 
no meu rosto enquanto adormecias
E, sim, por tantas tardes de sol poente
Da cor-de-seus-cabelos a que assistimos
E se fizeram depois as noites mais frias.
Pela saudade de quando o vento frio da noite, 
em momentos vãos, bagunçava-te os cabelos
E não pude tê-los, enrolados em minhas mãos,
Que se encaixam perfeitamente nas tuas mãos.
Pelas brincadeiras e pelo riso frouxo 
Espontâneo e instantâneo ao te ver. 
Agradeço e emudeço [...]
E, se não dei o suficiente, 
Não do jeito que você sempre quis
É porque estive ocupado sendo feliz...
contigo.
Por tudo isso que não faz o menor sentido, mas me faz feliz.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013



Hipócrita. Não suporto hipocrisia, mas finjo tanto para poder manter uma boa conviência - aparência. Apenas sorrio. Superficial. Condeno a superficialidade de sorrisos-com-a-boca-e-não-com-os-olhos, mas expresso meus pensamentos em 140 caracteres. Louco, como o Gato de Cheshire que disse "nós somos todos loucos", mas se esconde, invisível - aparência, falta de transparência, hipocrisia. Hipócrita.
domingo, 11 de agosto de 2013

De carro, andava depressa, tal qual a velocidade dos meus pesamentos naquele momento, que correm, correm e se perdem sem chegar a lugar algum. Imprudência, talvez. Não o meu pensar demais - se bem que, às vezes, isso pode também ser considerado imprudente e indesejável, mas sim o fato de estar depressa e desatento. Ruas vazias e o vento tão gelado no rosto que mais parece uma navalha cortando a carne. Onde foi parar o meu lirismo? O verso morreu. Amanhã tenho coisas para resolver. Quanta coisa, qualquer coisa. Acordar cedo. Correr, correr. Humanos são surpreendentes: tantas futilidades que fazem sentido nas suas pequenas realidades imersas em todos os eventos da imensidão do universo. Até que avisto um quebra-molas. Freio, mas desisto de frear e acelero mais para passar. Passei. Apenas uma rápida turbulência, seguida de tranquilidade novamente. Mas, seria prudente passar assim pelas turbulências? Rapidamente? A longo prazo, depois de muito se apressar pelas perturbações, desalinha-se o eixo, perde-se um pouco do rumo correto, já que não se pôde aprender com aquele momento, pois ele passou depressa demais, enquanto se corria apressado demais. E quando menos percebo, o quebra-mola já está tão longe que nem olhar no retrovisor eu posso mais. E aí eu lembro por que eu tenho que consertar o som do meu carro...

Confortavelmente entorpecido.

terça-feira, 6 de agosto de 2013



This is my time, this is my tear. I can see clearly now that this is not a place for playing solitaire. Tell me where you want me, this is my time, this is my tear. Comin' on strong, Baudelaire seems to me like all the world gets high when you take a dare. Let it rise before you...
Uma dose, duas doses, três does,. quartro dposses. Seja lá do que for, embriaguemo-nos, posto que a embriaguez anestesia a realidade que nos circunda. Não sentir nada - nem o bom, nem o ruim - estar apático ao toque da lucidez e buscar alforria da escravidão do Sr. Tempo ou das Imperatrizes Preocupações e o seus pensamentos caóticos que elas insistem em impor. E a minha consciência paira entre as nuvens de nicotina que me envolvem. Recomendável é continuar com o farol baixo, pois farol alto, nessa neblina, só dificulta a visibilidade. É, no mínimo, engraçado como é incongruente essa postura de embriagar-se, na qual a visão fica turva e confusa, já que não se muda muito do que já é naturalmente embaralhado, não é? Deixar levar-se pela ilusão de que vinho, poesia ou amor sejam a solução. Deixar-se levar por entre um vendaval que despe as pétalas em um campo de lírios. E caso tu te encontrares com a embriaguez já minorada ou finda, pergunta-te o rumo a ser seguido por entre cambaleios e trocas de pernas: o elogio à loucura ou o escárnio da razão? Leva, vento ou vendaval, leve e livre esses pedaços de lírio, incompreendidos. Sim, o negócio é embriagar-se por completo. Com o perdão da palavra aos falsos moralistas, mas não sou eu quem vos digo: é Baudelaire.