Idiossincrasia do Sujo.

sábado, 12 de abril de 2014


Sob a chuva, mas sem sentir as gotas na pele, sentia apenas a água turva entrar no all-star ao pisar numa poça imunda na beira do meio fio. Naquele momento, o pensamento caótico se confundia com o barulho dos carros anômicos e os faróis refletidos no chão molhado causam um estranho incômodo fotofóbico, evitado com um simples olhar para baixo...

E ver um cigarro encharcado e puído sob os pés, sob a chuva, sob o céu. O escarro é inevitável e o disparo se faz certeiro ao lado dos restos de fumo – denso e preto, tardiamente à tosse seca. O ar carregado de fuligem em suspensão do ônibus que parte é tão preto quanto o cuspe que carrega mais substâncias diferentes que um maço de cigarros se atreveria.

São as chagas asfixiadas que saem em amálgama com o pretume e, lentamente, se misturam no chão com o chorume que escorre de uma lixeira velha e enferrujada. Cada elemento combinado como deveria. Isso até que os pés descalços e rachados de um mendigo pisam na alquimia pútrida e a espalha entre os passos, misturando-a a uma nova sujeira híbrida.

Um breve pigarro e a saliva é engolida devagar na tentativa de aliviar a sequidão da garganta. Entre o escarro e a tosse; o vômito e a lágrima; a fumaça e a solidão; a arte sobrevive compartilhada na idiossincrasia do toque úmido de um aperto de mãos amigas. O sinal abre e o passo já pode se apressar para atravessar em segurança e ir para casa.


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