Ninho de cobra.

quarta-feira, 24 de julho de 2013
"Com ele aprendi o sentido da palavra indiferença"
"E, defronte ao teu afago infiel,
Prefiro a harmonia da cascavel
Que é o prelúdio da investida!"


A peçonha não vem da serpente ou da aranha. Nesse caso, vem da pessoa: ou da persona assumida - dissimulada. A peçonha é líquida, volúvel, versátil - assume a forma desejada, preenche. A peçonha é a palavra, ludíbrio momentâneo, injetada lentamente nos ouvidos. É anestésica, mas com apenas um fim: te deixar vulnerável. Paralisa, tira os sentidos. Desvia a atenção enquanto a cobra age. Existem cobras, entretanto, que não são peçonhentas, ufa!  Em vez de usar o veneno que sai da boca, ela vem, devagar, sedutora, envolvente: a serpente que abraça. E o abraço é mera aparência. Apenas uma formalidade para o ataque. O abraço é o prelúdio da investida! Escarra nessa boca que te envenena, rejeita o abraço que te apodrida! Afago infiel, chega manso, mas objetiva infligir o dano. Sete trocas de pele - disfarces, sete personas - sonsas, sete pecados - frutos proibidos. No fim, estamos em um ninho de cobra e não há pra onde correr...

E, assim, quem mora, entre cobras, sente inevitável necessidade de também ser cobra.

Mas não habitarei teu ninho, filho da puta. Sorte sua que eu guardo o meu veneno.

1 surtos poéticos/patéticos:

Mari Fernandes disse...

É seu? Seu gênio! Gênio!